Mãe - Oficina Colaborativa do Estranho Mundo - 1º Desafio



Esse ano eu participei da Oficina Colaborativa do Estranho Mundo, do Eric Novello. O cara escreve muito bem e merece sua atenção, juro. Na verdade, eu fui atrás dele e participei da Oficina por que eu li Exorcismos, Amores e uma dose de Blues e me apaixonei.

Bom, eu prometi que ia editar e publicar os desafios, tem gente qurerendo ler (que surpresa)! Eu vou colocar texto do Eric delineando os desafios e depois do link tem minha resposta. Divirtam-se!

1º Desafio - Mãe
"Vocês têm entre 1 e 2 páginas para me escrever um conto que trabalhe a divisão em 3 atos. Vocês NÃO podem indicar pra mim os atos, ou seja, dividir o texto entre parte I, II e III. O texto pode ser realista ou não.

Plot twist: O tema tem que passar pela palavra MÃE!

Sugestões: Maternidade - Mãe superprotetora - Mãe ausente - Mãe de uma nação, e por aí vai.

No cinema: Alien Queen. Psicose!
Na televisão: Cersei, de Game of Thrones.
Na literatura: O conto "Eu, a sogra", da Giulia Moon.

E, bem, acho que deve ter uns 550 filmes de terror que usam o tema da maternidade de maneira criativa :)
Sigam na direção que acharem mais interessante. O que vou analisar aqui é como vocês estão ligando os pontos que formam uma história, e as ideias mais instintivas de vocês." 



Não fica me olhando que nem bobo não. Senta logo e não mexe em nada na minha mesa, que se você quebrar alguma coisa eu vou quebrar você. Ou tirar do seu soldo, mas você vai preferir que eu te encha de porrada, vai por mim. Além do que, você ganha mais lendo o contrato aí que fuxicando as minhas fotos... Mas cada um tem sua prioridade na vida, né? A gente carrega as escolhas que a gente faz.
Bom, antes de tudo, antes de assinar, eu preciso te mandar a letra. Vou ser sincera sobre o trabalho, sobre como a parada rola. Seguinte, a coisa boa de uma infestação zumbi urbana é que dá pra criar um perímetro e controlar o fluxo interno da cidade através das câmeras de trânsito. Aí é só não deixar ninguém infectado sair. A gente já tá tão acostumado que não tem uma pessoa que não saiba as instruções de emergência de cor, né?
Primeira notícia sobre um infectado, nós chegamos, estabelecemos o perímetro, pessoas evacuam a área, observamos por 3 meses, passamos um pente fino nos prédios, e assim que dá, devolvemos pra população.
É um trabalho chato, mas alguém tem que fazer né?
Olha, se você vai mesmo se alistar, deixa eu te dar um conselho. Não fica monitorando as câmeras. Vai por mim, é o pior trabalho. Você vê coisas que até Deus duvida. Vai limpar privada, cuidar da comida da tropa, é trabalho duro, mas é melhor que ver certas coisas.
Não tou zoando não, moleque. Tou falando sério. No início da infestação é mole. Um monte de gente em pânico tentando sair da área. É isso. Complicado mesmo fica quando já saiu todo mundo que tinha pra sair e a galera que ficou... Bom, quando a galera que ficou dá seu jeito.
O vírus é uma merda. A pessoa apodrece antes de perder a consciência. Às vezes o pessoal tem que matar zumbis extremamente eloquentes, que, nossa senhora, são inclusive pessoas maravilhosas, mas tem que matar, né? Quem ficou no perímetro não pode sair.
Eu não devia te contar essa história, mas vou contar, é importante você saber dessas coisas antes de se alistar.  Lembra daquela infestação que pegou todo o centro do Rio de Janeiro, uns cinco anos atrás? Pois é, eu tava nas câmeras. Tinha um posto de perímetro bem nos arcos da lapa.
Mais ou menos pelo quadragésimo quinto dia, eu vi um vulto, vindo lá das bandas da Central. Um vulto de cabelo comprido e bem esfarrapado, carregando alguma coisa. O bicho tava tão podre que não dava nem pra saber o que era, sabe como é? Humanóide, sabe? Tipo um macaco. Pois então, dois braços, duas pernas uma cabeça... Mas embaixo dos trapos podia ser qualquer coisa.
Pois bem. O vulto veio subindo pela Presidente Vargas, arrastando os pés, bem devagar. Zumbi anda devagar por que o músculo não regenera mais, né? Então lá vinha a coisa mancando. Depois se embrenhou ali pelo Centro.
O louco era que o bicho era extremamente esperto. Se vinha alguém, se escondia. Se vinha outro zumbi, ah, rapaz, aí que se escondia mais rápido.
O bicho só subia a rua de manhã cedo e durante a tarde, depois que o bruto do calor passava... Batia umas oito da noite e sumia das câmeras, a gente não achava mais. Cinco da manhã aparecia de novo, andando.
Vou te dizer que eu me apeguei. Sabe como é, curiosidade. Tu vê um bicho resiliente assim, teimoso, tu quer saber de onde veio, pra onde vai.
Eu só queria que aquela criatura conseguisse descansar em paz, sabe?
Toda vez que chegava meu turno, eu ia lá ver se a criatura tava andando. E eu cuidando o caminho, cuidando por onde o troço andava. Vendo os problemas na frente do bicho e rezando pra ele não tropeçar em gente ruim.
Demorou 3 dias pra eu perceber que tava vindo na nossa direção, de tão entretida que eu tava. Foi só quando o bicho desandou numa carreira pela Mem de Sá que me toquei do problema.
Alertei meu superior. A galera subiu na mureta e olhou. O bicho veio chegando, veio chegando, olhando pra trás as vezes. Acho que estava com medo, sabe, que tinha visto algo muito pior que ele. Algo mais assustador.
Quando chegou a vinte metros da barricada, foi um tiro só. Pum! No ombro. No ombro não dá nada, mas a gente ouviu um urro, aquele barulho feio, que vem do fundo da cova. Aí ele arrastou o pé. Depois mais três tiros. Um acertou a cabeça certinho.
A criatura caiu como se fosse uma bailarina. Se estendeu de forma delicada, colocando a trouxa que ele carregou esse tempo todo pra frente. A trouxa caiu e ficou no chão. Ninguém entra, ninguém sai.
Nunca vou esquecer. O bicho caiu era umas cinco da tarde. Oito da noite, a trouxa começou a se mexer. Depois começou a chorar. E eu na câmera.
O bicho trouxe um neném, cara. Um neném. O bicho carregou um neném por 3 dias. Pra gente. Pra gente cuidar. O neném novinho, novinho. E lá, chorando. E o superior disse ‘deixa morrer’. Cabou meu turno, fui dormir e o neném chorando. Naquela altura do campeonato, ninguém entra, ninguém sai. É um trabalho de corno, cara.

Vai se alistar? Que? Que que cê tá olhando na minha mesa, hein? Essa foto? Minha filha. O nome dela é Vitória. Quantos anos ela tem? Quatro. É, quatro anos. Grande ela, né? Todo mundo acha que ela tem cinco anos. Mas ela tem quatro, tá? Ela tem quatro.

Comentários

  1. Vou lendo aos poucos e comentando!

    Meu, achei a ideia bem foda. Hahaha... Tipo, sabendo o tema do texto, eu saquei que era um nenê logo que você falou que o zumbi carregava algo. Mas achei foda o plot twist ser beeeem no finzinho, pescando uma informação que você deu lá em cima. E eu fui fuçar aqui pra confirmar se o nome da sua filha é Vitória e... adorei. Hahaha...

    (P.S.1: Li o conto inteiro com a sua voz hahahaha
    P.S.2: Ri alto com o "Às vezes o pessoal tem que matar zumbis extremamente eloquentes, que, nossa senhora, são inclusive pessoas maravilhosas, mas tem que matar, né?" HAHAHA)

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    Respostas
    1. :D brigada, Jana! :D

      Amarrar com o início foi a dica que o Eric me deu! Na primeira versão não tava assim não, mas foi valioso, até eu achei o conto mais amarrado :D

      Eu não resisti dar o nome de vitória pra personagem... Pq mais vitoriosa que ela não tem ahhahahahha <3

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