Espelho

Para a Oficina ELFA (Escritores de Literatura Fantástica e Associados). Novembro de 2016.

Marla foi avisada pela mãe pra nunca mexer no móvel coberto que ficava na sala. A mãe disse que o espelho, sempre coberto, mostrava o amor da vida da pessoa que olhasse nele. Que o espelho tinha causado inúmeras mortes na família, inúmeros problemas, vidas frustradas e muita, mas muita dor. A mãe pediu que Marla guardasse o espelho, mas nunca olhasse.


A tia Cristina, irmã da mãe, ecoava os pedidos. Contava que viu o homem de sua vida no espelho e que nunca o encontrou realmente. Contava da dor de saber da verdade. Tia Cristina se matou ainda jovem, consumida pelo desespero da solidão.

O espelho passava seus dias coberto. Marla passava seus dias vivendo.

Teve mais de um namorado, teve mais de uma amante. Teve dois casamentos, ambos terminados com dor, tristeza, mas em bons termos; Marla perdeu um marido e uma esposa, mas ganhou dois amigos.

Um dia, a morte já chegando, Marla se perguntou se tinha conhecido e vivido o amor de sua vida, mas por mais que pensasse, não conseguia chegar a uma resposta. Achou por bem perguntar ao espelho.

Empurrou o espelho até o meio da sala, e depois de uma garrafa de vinho, puxou o lençol.

Se viu inteira, perfeita, completa, satisfeita, feliz.

Sorriu.

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