Insanidade

Maio de 2017.

- O tempo passa diferente pra mim. - Eu disse, calmamente.


O homem na minha frente reagiu como todos os outros. Com incredulidade.

- É como se eu fosse o meio da ampulheta e as areias do tempo corressem através de mim. - Minha voz soava como o murmurar de um rio que corria à beira do deserto, despreocupado.


- Mas como é que você sabe que passa diferente? - Ele perguntou, escrevendo em uma prancheta.

- Dá pra ver nos seus olhos. Vocês acham que não tem tempo. Eu sinto cada segundo, cada momento. Eu tenho todo tempo do mundo... Por que eu sou o Tempo.

- A sua casa sofreu um incêndio. Você lembra disso?

- Lembro de ver o gás expandindo na boca do fogão e das faíscas... Dos furos no bocal do fogão se acendendo, criando uma flor azulada. Lembro das bolhas da água aquecida na panela, flutuando até a superfície. Lembro da água fluindo através do pó e o café surgindo na outra ponta.

- E por que você estava fazendo café?

- Por que o Fogo veio me visitar. Coitado, ele ainda não se controla muito bem. Chamuscou meu sofá, as paredes da sala. Mas gostou do café.

O homem saiu da sala, foi conversar do lado de fora, próximo da porta. Eu podia ouvir o que ele estava dizendo.

Esquizofrenia. Eu estava em crise. Tinha incendiado minha casa e estava criando uma fantasia para lidar com a verdade.

Virei os bolsos do uniforme ao contrário, jogando a areia furta-cor no chão. A brisa espalhava a areia pelo ar, fazendo com que o quarto inteiro cintilasse.

O Sol espiava pela janela gradeada, prometendo que me libertaria, assim que possível.

- Tenha calma, não há pressa. Mesmo aprisionada, meu irmão, eu corro. Eu passo.

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