Poção Mágica

Para a Oficina ELFA (Escritores de Literatura Fantástica e Associados). Fevereiro de 2017.

33 dias desde que ele me tocou pela última vez. Desde que eu senti a pele dele contra a minha. 33 dias de completo desespero. 792 horas de uma ânsia incessante pela sensação da pele dele na minha.

Mas isso acaba hoje.

Isso acaba agora.


Ele grunhe, nu, amarrado na cadeira, amordaçado, os olhos arregalados. Eu pego a garrafa vermelha, cheia de líquido e mostro pra ele. Ele luta contra as amarrações, sem muito sucesso.

— Você sabe o que é, né? Você vai beber cada gota. — Ele faz que não com a cabeça, grita contra a fita adesiva colada na boca dele. — Vai sim. Quer ver?

Com um estilete, abro um talho na fita adesiva. Cuidadosamente. Ele aproveita a oportunidade pra sugar um bocado de ar e eu enfio o gargalo da garrafa entre os lábios dele. Não é por que eu o amo que eu não quero me divertir com o desespero do rapaz. Ele precisa pagar pelo que fez.

Sem espaço para cuspir o líquido, ele é obrigado a engolir tudo.

Findo o conteúdo da garrafa, ele começa a gritar novamente, agora menos abafado por conta do buraco na fita. Ele me xinga, me amaldiçoa, diz que eu nunca vou conseguir o que quero, que não importa quanta poção eu dê pra ele. Só consigo rir.

— Eu não sou da sua laia, seu merda, eu só queria te dar um susto. Isso é água. Na garrafa que eu achei na tua casa. Na garrafa da qual você me fez beber.

Ele se empertiga, para de lutar. Sorri, a pele e a fita puxando uma a outra. Num salto, antes que ele possa dizer qualquer coisa, enfio um pedaço de pano dentro do buraco na fita e colo mais fita em cima.

— Eu sei exatamente o que você me deu. Você me deu uma poção do amor. Eu sei exatamente como ela funciona. Eu sei que você pode me mandar fazer qualquer coisa que eu faço de bom grado. Mas sabe onde está o problema? Você me abandonou assim que conseguiu o que queria. — Eu sento no colo dele, de frente pra ele. — Você nem me deu a poção pra efetivamente ficar comigo, só queria uma noite. Agora eu tenho que lidar com o vício. Eu que me foda, né?

Ele ri, abafado. Os olhos dele são só malícia.

— Ô, amor, não... Você não está aqui pra isso não. Eu vou me livrar desse feitiço, e vai ser agora. Eu sei desfazer o efeito.

Puxo a faca mais afiada da minha bota; com um movimento rápido, fatio uma lasca do braço dele e enfio na boca. Ele grita, chora, se debate, enquanto eu mastigo. O sangue flui do corpo dele e eu me inclino para beber.

— Você devia ter escolhido com mais cuidado, meu amor. Tanto a poção, quanto o alvo.

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