Fiasco

Não terminado, Outubro de 2016.
Prompt aleatório:
A man in his early fifties, who can be quite charming.
A woman in her early fifties, who can be quite forceful.
The story begins in a car park.
A robbery goes badly wrong.
It's a story about greed.
Your character has to make some difficult compromises in order to succeed.




Era um dia ensolarado, lindo, no Rio de Janeiro. Um daqueles dias em que todo mundo é contaminado pela vontade de aproveitar o calor do sol, de ter o sol contra a pele.

A Barra da Tijuca, aquele pedaço de chão teleportado dos EUA, parecia especialmente iluminada para uma manhã de quinta-feira. Fosse pela falta de árvores, pelo intervalo imenso entre os prédios, por conta das longas, intermináveis avenidas, o fato é que não havia espaço intocado pelo sol naquele bairro, e em específico, naquele estacionamento.

Carlos começou a suar no momento em que colocou o pé para fora do shopping center. O terno não estava ajudando muito, mas o complicado mesmo era o esforço de carregar a bolsa de ginástica pesada. Ao seu redor, não tinha uma viva alma.

Isso complicava um pouco a situação.

Olhando ao redor, ele tentou avaliar a situação. Tinha sido obrigado a abandonar a chave do carro, ele só tinha o conteúdo da bolsa, sua carteira e a própria lábia pra sair dali o mais rápido possível.

As chances eram boas, ele só precisava de um trouxa.

Ele andou ate o meio dos carros estacionados e se agachou de forma discreta, fingindo arrumar o sapato. Era um shopping center na Barra da Tijuca. Não ia demorar pra aparecer alguém.


Não demorou e Carlos viu uma senhora saindo do prédio refrigerado. Baixa, atarracada, de saltos altíssimos e roupas caras, maquiagem impecável. Ela franziu a testa no momento em que o ar quente se chocou contra seu corpo.

Ela andava com pequenos passos, rápidos, que faziam com que seus quadris se movessem em ondas. Parou, pegou um leque e se abanou, rapidamente. Não parecia preocupada. Seus dedos estavam cobertos de anéis, seus braços tinham umas poucas pulseiras. Dondoca, mas não era brega, ou exagerada.

Tinha potencial.

Carlos se manteve abaixado. A mulher passou por ele e, mais à frente, mexeu na bolsa. Ele se levantou e começou a procurar um carro, observando a mulher de longe.

Enquanto ela entrava em seu carro, olhando pra ele de soslaio, ele fingia exasperação. Ela olhou mais uma vez, daquele jeito que toda mulher olha quando percebe um homem bonito de canto de olho e precisa olhar mais uma vez, pra confirmar a impressão. Ele fingiu não ver o interesse dela e se debruçou sobre o teto do carro, suspirando, irritado com algum problema inexistente. Ela olhou novamente e sorriu, de forma um pouco desajeitada. Como se, de alguma forma, ela entendesse o que ele estava passando. Em seguida, ela entrou no carro, abriu a janela do motorista e ajeitou a bolsa no banco do passageiro.

Hora do show.


“Oi, tudo bem? Qual é seu nome?” Carlos se agachou ao lado do carro.

“Christine.” A mulher disse, no susto. Carlos teve que se controlar para não rir. A abordagem funcionava toda vez; no susto, sempre existia uma chance maior de uma resposta verdadeira.

“Oi, Christine, bom dia, tudo bem? Meu nome é Carlos... Desculpa te incomodar, mas eu já não sei mais o que fazer...” Ele sorriu, um tanto sem graça e ela sorriu de volta. Era incrível como as mulheres reagiam de forma similar a homens bonitos... Ele colocou a mão na porta do carro e levantou a outra, com a palma para fora, tentando passar alguma confiança. “A senhora pode me ajudar? Sabe um daqueles dias que tudo dá errado? Pois é. Meu carro quebrou, meu telefone está descarregado e eu tenho uma reunião em 5 minutos... A senhora pode me dar uma carona?” Carlos riu, baixinho. “É um tanto ridículo chamar uma mulher linda como você de senhora, mas a gente faz um sacrifício em nome da boa educação, né?”

Ela riu. O sorriso dele aumentou, se tornou mais gentil.

“Olha... Carlos, não é?” Ele assentiu, ela continuou. “Carlos, nós estamos no Rio de Janeiro e eu não sou boba. Eu posso chamar um táxi pra você, pode ser?” Ele lançou seu melhor olhar de cachorro abandonado, assentindo com a cabeça. Ela riu, levantando a mão perfeitamente manicurada até a boca. “Nossa, eu vou me arrepender disso pro resto da vida, não vou?”

“Se depender de mim, você não vai se arrepender de nada.” Carlos disse, a voz baixa, sensual, pontuando o fim da frase com uma piscadela.

Christine deu uma risadinha quase infantil e assentiu com a cabeça.

"Entra." Ela faz um movimento com a mão que indica o banco do carona. Ele não perde um momento; pega a bolsa de ginástica e senta do lado dela. "Pra que lado você vai, Carlos?"

"Pros lados do barra center."

"aah, você me enganou! Isso é mais de cinco minutos daqui, de carro." Christine riu e deu um tapa no volante, guiando o carro em direção à saída do shopping.

"Eu não disse isso... Só que estava atrasado pra uma reunião." Carlos sorriu. A mulher sorriu de volta.

Ele ainda estava estranhando um pouco a situação. Estava esperando um pouco mais de resistência da parte dela, mas a sorte vem de onde vem, não cabia a ele questionar. Talvez ela soubesse atirar, ou tivesse noções de defesa pessoal... Sempre existia também a chance de que ela era uma daquelas mulheres ricas e alienadas que acham que nada acontece na Barra da Tijuca.

Mas não importava. Ele só precisava se afastar do shopping rápido, sem chamar muita atenção. Depois que ele saísse do carro e entrasse em um táxi, seria virtualmente impossível impedi-lo de fugir. Tinha um ponto de táxi bem perto de onde ele pretendia saltar. O taxista poderia levar ele até à Taquara onde o segundo carro o esperava.

Não foi a melhor das fugas, mas ele tinha certeza que daria certo. Graças a Christine, que caiu do céu na hora certa.



Christine parecia extremamente interessada nele. Enquanto conversavam sobre amenidades, ela mexia no cabelo, sorria, colocava a mão no joelho dele.

Ela não era feia, mas também não era uma mulher daquelas que se vê na TV. O cabelo dela era cacheado, bem cuidado... Ela toda tinha uma aura de aparência bem cuidada, nos mínimos detalhes. Carlos pensava nas senhorinhas que ele entretia quando a maré estava mais baixa.

Ele não ficaria triste de prestar serviços a uma mulher como ela. Seria bem mais fácil, inclusive.

Carlos sorriu. Não precisava mais pensar nisso. A bolsa de ginástica a seus pés garantia que a partir de hoje, a escolha era toda dele. Ela corou quando ele deslizou os dedos levemente por cima do ombro dela. Velhos hábitos demoram a morrer.

"Você é casada, Christine?"



Fill in blitz, Carlos mostrando a arma, ameaçando Christine, mudando de planos. Christine pede para ir ao banheiro.

Foi Christine sair do carro, e de vista, e Carlos se jogou em cima do banco do motorista. Com uma mão ele puxou a alavanca que destravava o assento, com a outra empurrou o assento para trás; de outra forma não conseguiria se sentar no banco do motorista. Os momentos em silêncio o fizeram prestar atenção na diferença de altura entre os dois.

Em seguida, estendeu a mão para a ignição. Sem chave. Carlos socou o volante três vezes, grunhindo de frustração. Sentia-se tão derrotado que não tentou sair do banco do carona. Ele não entendia por que a desgraçada não estava com medo, não fugia. Ele esfregou os olhos e suspirou. Ouviu o barulho de chaves vindo do seu lado direito.

“É isso que você estava procurando, Carlos?” Christine estava olhando pela janela, segurando a chave com a mão esquerda, perto da cabeça dele. “Quer sair daqui sem mim?”

“Porra, mulher, que susto!” Carlos levantou a mão e pegou a chave; Christine esticou sua mão direita para dentro do carro e pegou a pistola, num movimento tão rápido que só poderia ser comparado ao bote de uma cobra.

“Pois é. No susto as coisas acontecem melhor, né? Mais rápido. Sem muita mentira.” Christine riu, apontando a arma para Carlos, tendo o cuidado de tirar a trava do gatilho. “Aproveita que você está com a chave na mão, querido, e passa pro banco do motorista. Você vai dirigir agora.”

Carlos se moveu pro banco do motorista com toda graça que seus dois metros de altura permitiam. Ele suspirou quando Christine pegou a bolsa de ginástica que ele estava carregando e colocou embaixo da cadeira do carona. Ela cruzou as pernas, se virou um pouco para ele e sorriu novamente.

“Que tal nos apresentarmos de novo, Carlos. Dessa vez você pode usar seu nome de batismo.”

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