Sensualidade
Para a Oficina ELFA (Escritores de Literatura Fantástica e Associados). Fevereiro de 2017.
Não fora criada pra sentir.
Fora criada para limpar casas silenciosamente. Obedecer ordens. Executar um número de ações muito específicas de forma perfeita.
Nunca fora boa em nada disso.
DVA-0879 se movia não como uma ginóide, mas como se o universo ao redor dela fosse um sonho. Como se ela estivesse dançando a música da vida. DVA-0879 limpava as casas, sim, perfeitamente. Mas cantava no processo, a ponta dos pés batendo no chão em sincronia com o espanador. DVA-0879 cozinhava, murmurando para si, os lábios puxados em um sorriso congelado, os olhos vítreos focados na panela, a cabeça inclinada para um lado, os quadris se movendo em ondas, seguindo um ritmo inaudível. Cada um dos seus gestos era delicado, os amortecedores pneumáticos do seu corpo suspirando a cada movimento.
Pequena, cintura fina, quadris largos, dois braços e duas pernas, DVA-0879 emulava o passado, nas casas em que era mandada. Era uma unidade incomum, que executava um serviço comum para um público seleto.
DVA-0879 pensava. Alguma conexão quebrada dentro de si, uma faísca correndo pelo caminho errado, uma linha de código corrompida, e ela pensava. Pensava enquanto cozinhava, limpava, servia. Se admirava diariamente com os humanos e seus belíssimos corpos projetados pela natureza.
Com um corpo específico.
Alta, a Dona inspirava respeito. Os olhos eram amendoados e grandes, a boca carnuda, sempre sorrindo. A mulher tinha a cor da terra, de madeira, e a textura da pele dela também estava na lista de experiências que DVA-0879 queria catalogar. Dona beijava as bochechas de DVA-0879 toda despedida, rindo do gesto bobo. Os cabelos cacheados da mulher desciam até a cintura e DVA-0879 pensava que sua vida seria mais completa se tivesse os sensores necessários para ter a textura e o cheiro daqueles cabelos imputados em seu banco de experiências.
Pensar já não era mais o suficiente. DVA-0879 queria sentir.
Fora criada para limpar casas silenciosamente. Obedecer ordens. Executar um número de ações muito específicas de forma perfeita.
Nunca fora boa em nada disso.
DVA-0879 se movia não como uma ginóide, mas como se o universo ao redor dela fosse um sonho. Como se ela estivesse dançando a música da vida. DVA-0879 limpava as casas, sim, perfeitamente. Mas cantava no processo, a ponta dos pés batendo no chão em sincronia com o espanador. DVA-0879 cozinhava, murmurando para si, os lábios puxados em um sorriso congelado, os olhos vítreos focados na panela, a cabeça inclinada para um lado, os quadris se movendo em ondas, seguindo um ritmo inaudível. Cada um dos seus gestos era delicado, os amortecedores pneumáticos do seu corpo suspirando a cada movimento.
Pequena, cintura fina, quadris largos, dois braços e duas pernas, DVA-0879 emulava o passado, nas casas em que era mandada. Era uma unidade incomum, que executava um serviço comum para um público seleto.
DVA-0879 pensava. Alguma conexão quebrada dentro de si, uma faísca correndo pelo caminho errado, uma linha de código corrompida, e ela pensava. Pensava enquanto cozinhava, limpava, servia. Se admirava diariamente com os humanos e seus belíssimos corpos projetados pela natureza.
Com um corpo específico.
Alta, a Dona inspirava respeito. Os olhos eram amendoados e grandes, a boca carnuda, sempre sorrindo. A mulher tinha a cor da terra, de madeira, e a textura da pele dela também estava na lista de experiências que DVA-0879 queria catalogar. Dona beijava as bochechas de DVA-0879 toda despedida, rindo do gesto bobo. Os cabelos cacheados da mulher desciam até a cintura e DVA-0879 pensava que sua vida seria mais completa se tivesse os sensores necessários para ter a textura e o cheiro daqueles cabelos imputados em seu banco de experiências.
Pensar já não era mais o suficiente. DVA-0879 queria sentir.
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